Sempre fui muito apaixonado por Frida e sempre que posso faço aquisição de livros ou qualquer outro artefato que a represente. Frida Kahlo, quem nunca ouviu falar desta grande artista? Sua história magnífica de força, determinação e superação, a alma do México. Sua arte cheia de dor, carregada com sua identidade, com sua melancolia e carregada de significados e reflexões.
Urânia Tourinho Peres (Org.); Frida Kahlo – Dor e Arte, EDUFBA.
Neste
livro organizado por Urania Tourinho, do colégio de psicanálise da Bahia, lançado
pela EDUFBA, traz toda a perspectiva psicanalítica de sua vida e de sua arte. O
livro possibilita uma reflexão sobre atitudes de nossa vida, do nosso cotidiano
e do nosso corpo. O que é o nosso ser? Um livro que leva as passagens do diário
de Kahlo, traz uma analogia de suas obras de arte e de suas frases e explicita
como uma mulher tão mutilada e cheia de dores [digo isso relativo a seu corpo,
mente, alma e “coração”] conseguiu transgredir e transferir toda sua mutilação
para a arte, de forma empírica.
"Frida
punha a tristeza no quadro e voltava a sorrir" - "Frida se pintou, se
reconstruiu, se recriou, colorindo e retocando sua vida. Frida se fotografou,
se fez sujeito" - "Gostamos de ficar doentes porque nos sentimos
protegidos".
O
livro apresenta uma aparência de que para compreendê-lo é necessário conhecer a
psicanálise e a história de Frida, contudo, no primeiro capítulo Urânia faz uma
breve descrição, com citações e exemplos tomados do diário de Frida sobre sua história,
transformando o livro bastante didático do que aparenta. As páginas grandes e
uma linguagem fluida, fornece a possibilidade de uma leitura sem muitas
interrupções. Já no segundo capítulo Griselda Pêpe apresenta reflexões sobre o
diário de Frida, sobre seu romance, sobre sua vida, suas cartas, obras e de
como o amor era a roda de sua vida. Explicando os pontos importantes e no final
faz uma comparação com Charles Bukowski e sua obra.
No
terceiro capítulo Andrea Araújo forma toda uma perspectiva mais epistemológica,
fazendo uma analogia da vida de Frida com a perspectiva analítica de grandes
autores como: Lacan, Zizek, Didier-Weill, entre outros. Contrastando os gestos,
sua pintura e outras ações de Frida, deixando uma ressalva quando ela diz: “Frida
pinta Frida”.
Conhecer
toda essa arte e colocar-se dentro da pintura e poder sentir toda a sensibilidade,
dor, felicidade faz-se necessário para compreender toda sua trajetória. Nesta
perspectiva que Darilda Miranda constrói o quarto capítulo, onde contemplar seu
diário, suas cartas, sua vida é participar de um espetáculo. “Frida punha a
tristeza no quadro e voltava a sorrir”. Trazendo a ideologia de Freud e Lacan
para explicar sob a visão da psicanálise para com suas obras.
No
quarto capítulo Regina Sarmento contempla sua obra e observa o comportamento e tenta
explicar seu humor, suas emoções, dores, seu sorriso, seu amor. No quinto
capítulo, como podemos explicar a dor da morte? O que realmente é a morte?
Morte do corpo é pior ou equivalente a morte dos sentimentos? Esses são alguns
questionamentos explicitados. “Frida explicitou que o amor mata”. E sobre esta
frase ela explica na perspectiva de Lacan – “O amor é uma forma de suicídio”. (LACAN,
1953-54).
No
sexto e último capítulo de Suely Aires, ela explica o que é o corpo? O que ele
representa para Frida? Qual sua perspectiva sobre o corpo com toda sua
mutilação física? Suely faz um encerramento nobre explicando na perspectiva
Lacaniana e Freudiana o que significa o corpo para nós e o que Frida cita sobre
o nosso copo, que é a representatividade de um “conjunto”, onde esse conjunto
quando apresenta uma interrupção, há um vazio.
Um
livro muito bem construído, com uma capa sem muito trabalho gráfico, contudo,
de aparência séria. Este livro que permite trazer uma reflexão do que realmente
foi a vida dela e a sua contribuição para o México como uma heroína, sendo uma
heroína da figura do país, de seu povo, de sua cultura e principalmente da identidade
deste povo explorado e mutilado.
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