quinta-feira, 14 de maio de 2015

Relativizando, Roberto DaMatta

Desta vez terminei o livro do renomado Roberto DaMatta sobre antropologia e de como ela deve ser relativizada. Demorei um pouco para ler devido a outras exigências da faculdade mas consegui finalizar. Gosto muito dos livros dele, sempre com uma linguagem bastante "leve".


DaMatta, Roberto. Relativizando, uma introdução a antropologia social; Editora Rocco.


Trazendo toda perspectiva sobre a antropologia, DaMatta faz uma introdução trazendo seus termos, sua história e por fim seus métodos. “A antropologia social autêntica só pode acontecer quando estamos plenamente convencidos da nossa ignorância. ” (pag 13).

No primeiro capítulo o autor traz os conceitos, diferenças e perspectivas das ciências naturais e sociais. Definindo ciências naturais como estudo dos fatores simples, que podem ser reproduzidos isoladamente, entretanto a ciência social torna-se fatores complicados, aqueles que não podem ser reproduzidos isoladamente, não pode ser controlado, interveniente. Estar “ignorante” representa a abertura para entender e compreender uma outra cultura. As ciências sociais é a interação complexa entre o investigador e o sujeito investigado. A antropologia procura entender a pesquisa de uma determinada comunidade partindo da perspectiva de troca, onde compreender e entender junto ao seu objeto. Quando DaMatta cita a antropologia com a diferença como ponto crucial. O homem como visibilidade do seu próprio eu, onde é o único capaz de estabelecer em si a si mesmo, aquele capaz de tudo.

DaMatta sempre traz a relativização de tornar a cultura o centro da característica de uma sociedade, com organicidade e conhecimento. O que é antropologia biológica ou física? As definições apresentadas em seu livro, a antropologia tem o poder de exemplificar, caracterizar e descrever o homem através do tempo onde a arqueologia traz vislumbre da sociedade e da cultura. Ainda no primeiro capítulo Roberto traz uma perspectiva do homem fraco, que necessita evoluir constantemente.

Quando ele traz a perspectiva de construção constante, ele fala que o homem por ser complexo, o mesmo não possui definições ou um caminho de mão única. Ter cultura é desenvolver e praticar tradição de modo responsável, pois só o homem tem esta consciência, do mesmo modo que pode alterar os mesmos. Agir fora de uma cultura pode ser uma atitude subversiva. Ao exemplificar e conceituar sociedade e cultura, DaMatta traz a perspectiva da materialização de uma cultura, tornando possível sem uma sociedade, sobrevivendo no tempo. A coletividade, individualismo, costumes, conceitos, conceitos, tradições, entre outros. Todos sabemos que Roberto sempre criticou o trabalho de Freyre, Casa grande e Senzala. Ao final do primeiro capítulo DaMatta traz a crítica forte as obras de Gilberto Freyre e outros como Darcy, Nina, entre outros, trazendo comparação do racismo a brasileira e o americano. Explicando as hierarquias institucionalizadas no Brasil e uma pseudo igualdade. O senso social de ser sempre meio termo, conciliação, relativismo do ambíguo, algo que evite o confronto.

No segundo capítulo Antropologia e história são os pontos de destaque, onde ele critica a pesquisa antropológica realizada dentro de um escritório [onde o pesquisador não fazia pesquisa de campo]. Outra crítica que DaMatta apresenta é a necessidade de compreensão do outro e que é mais importante focar nas semelhanças que nas diferenças. “O presente não é necessariamente explicável pelo passado” (pag 93). A definição de que o passado deve ser oposto ao presente é ilusório. Evolucionismo? A falta de um trabalho de campo abre portas para especulações e suposições, trazendo afirmações sobre uma cultura e/ou sociedade baseada em achismos. Colocar a minha sociedade em evidência, onde ela representa o estágio “final” (evoluída) enquanto o outro é atrasado, porém justifica-se seu atraso pelo tempo ou falta de acesso à civilização - “Origem, [...]substância, [...] individualidade, [...] um fim. ” (pag 93).

Após trazer a definição de evolucionismo e quando a pesquisa sai do escritório e vai para campo, partindo para o funcionalismo. Vendo o funcionamento, alas e métodos. Quando se compara historiador com o etnólogo temos um pequeno impasse que: o historiador pode ver uma sociedade, porém seu registro vai prevalecer a linha histórica, ou seja, o tempo irá determinar a sociedade. O etnólogo irá visualizar e compreender a sociedade, seu tempo, seus costumes, tudo! Ao tratar a antropologia, DaMatta traz Levi-Strauss e sua metodologia de analisar, pesquisar uma sociedade e exercer a antropologia sem hierarquização, sem utilizar a sociedade do observador como a mais evoluída, onde tudo pode ser relativizado. Teorizando as duas vertentes da história da antropologia, o evolucionismo e o funcionalismo. Partindo desta perspectiva, DaMatta explica a antropologia na história, trazendo Malinowski. Etnologia e historicismo como vertente principal, onde tomar consciência da sociedade pesquisada e sua compreensão é o mais importante. O filósofo irá interpretar a história do homem ou a história que o historiador fez do homem? Não basta narrar uma história partindo somente de uma única visão dada como soberana. O tempo é igualitário onde nenhum membro deste grupo pode “avaliar” o outro e sim, ver e poder falar do passado e do presente com igualdade. Conhecer a sociedade e seus costumes, ações, tradições, entre outros. Julgar um fato como político e não ser político. O discurso não pode ser aplicado como à primeira vista. Ao tratar sobre o tempo e sua história.

No terceiro capítulo DaMatta fala sobre o trabalho de campo, o trabalho de campo faz-se essencial para viver, entender e compreender a sociedade pesquisada de perto, usando a dialética e pondo-se no lugar do outro para compreendê-lo. Quando temos o trabalho de campo deve-se estar atento em todos os detalhes onde ao dizer “transforme o exótico em familiar”, onde dizer que o etnólogo se deve por dentro da sociedade, visualiza-la em todas as direções, onde há necessidade de abandonar-se para entrar em uma nova concepção. Utilizando de conceitos estereotipados sobre os cariocas e nordestinos para exemplificar uma “diferença” ideológica e cultural dentro de um próprio país. Na antropologia o uso de sentimentos faz-se necessário tanto quanto os métodos científicos.

Portanto, Roberto DaMatta mostra toda evolução da antropologia e de como é necessário relativizar, compreender. A antropologia mais humana faz parte da abordagem principal de Roberto, onde os sentimentos, as relações interpessoais são fundamentais. Com essa humanização, proximidade com a sociedade pesquisada, fornecendo um resultado mais detalhado e de qualidade. Torna-se uma leitura muito gostosa, mesmo não estudando cultura ou antropologia.

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